Avante Gaúcho Amigo ...

 


Avante Gaúcho

Na imensidão das planícies inundadas, naquele céu choroso que derrama suas lágrimas incessantes, as águas turbulentas balançam  ondas de tristeza e perda. Onde outrora as crianças corriam e os velhos contavam histórias sob o sol poente, agora jaz um espelho d'água, refletindo a dor do que foi arrancado pela força da natureza.

As casas, pequenos refúgios de lembranças e sonhos, cobriu-se com o peso das águas que a chuva trouxe, deixando para trás apenas sombras e memórias. Os pertences, carregados de histórias e afetos, dispersaram-se como folhas ao vento, irrecuperáveis, perdidos nas profundezas lamacentas.

Nas margens das águas que não querem baixar, os rostos marcados pela luta e pelo cansaço contam histórias de desespero e esperança. Homens e mulheres, unidos pela angústia da dor, formam correntes humanas, passando de mão em mão o sustento arrecadado, as caixas de medicamentos e os sacos de roupas secas. São gestos de solidariedade que aquecem corações machucados  pelo frio da perda.

Mas, apesar da união, o luto permeia o ar. Muitas vidas se foram, arrastadas pela correnteza impiedosa, e o lamento por aqueles que não mais voltarão ecoam pelas águas. A comunidade, embora resiliente, carrega o peso da tristeza, cada olhar perdido no horizonte parece buscar respostas, ou talvez algum sinal de alívio. Estou chorando mas não consigo parar de escrever, é o mínimo que posso fazer aos irmãos que tanta cultura nos ensinaram. 

Neste cenário de melancolia, onde a natureza reivindicou brutalmente seu espaço, resta a nós, sobreviventes deste lamento, a tarefa de reconstruir. Não apenas as estruturas físicas dos lares, mas também os laços desfeitos, as esperanças submersas. Com cada tijolo e tábua, cada parede que se ergue, levantará um novo tempo mais do que apenas física morada; mas também a sagrada missão de curar almas dilaceradas, e juntos, passo a passo, buscar-se-á   serenidade perdida na tempestade, com cautela e respeito ao luto e de olho na continuidade da vida e da geração futura.

Por C. J. Vellasques 


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