Um Conto Poético da Verdade Submersa
Um Conto Poético da Verdade Submersa
Nos vales frios de Rio Negrinho, onde o nevoeiro abraça as montanhas e as urnas guardam silêncios antigos, viveu uma lenda, cujo nome é bíblico, alma singela, vocação de servir.
Não era dono de diretório, tampouco condutor de verbas ou vontades. Era apenas um sonhador de mandato, um filho da democracia que ousou tentar um assento no parlamento, guiado por fé no voto e esperança no povo.
Mas eis que, entre contas e carimbos, caiu-lhe sobre os ombros o peso de uma assinatura. Uma só — como tantas que já fizera. E nela, sem intenção de prejudicar alguém, sem má-fé, sem lucro ou trama, selaram-lhe o destino com tinta de inverdade.
Disseram que forjou, que sabia, que mentiu. Mas esqueceram-se os que acusam de que o saber exige ciência, e a consciência. E de que quem não manda, não obedece; quem não preside, não responde; e quem não sabe, não titubeia.
As testemunhas não o viram ordenar. Os autos não o mostram comandar. Agremiação este, sim navegava à deriva, com presidentes múltiplos e arquivos sumidos. E ele? Ele apenas tintou... como quem assina boletos, atas, convites, faturas, papéis que lhe punham na mesa e não no coração.
O Olimpo da Justiça, austera e cega, esqueceu-se do aviso ao alto comando. A norma, que exige que Hermes "o Deus mensageiro" comunique o colegiado máximo nacional, contudo, foi silenciada. E por esse silêncio, se gerou o ruído dos pergaminhos processuais. Um ruído injusto, sem melodia, sem alma.
Mas o tempo, senhor da razão, trouxe à tona o que o papel não dizia, que a lenda viva era só um nome em um rodapé, não no cabeçalho da ordem. Que não pediu, não soube, não quis e, mais importante, não pôde.
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