O Homem que Veio do Vento




    



O Homem que Veio do Vento

Por C. J. Vellasques

    Ah, Senhoras e Senhores das Letras, apreciadores da paixão, do teatro e da literatura… que força tem a emoção quando se enlaça à arte! E que força é essa que nos move, senão um arrebatamento digno das mais sublimes tragédias e comédias do Bardo de Avon?

    Com tua permissão, aqui começa um conto, arquitetado com a vibração arrebatadora de um coração que amou Shakespeare numa tarde qualquer, e jamais voltou a ser o mesmo.

    Dizem que numa noite de bruma leve, entre as colinas da Inglaterra e os becos da alma humana, nasceu um homem feito de palavras.

    Não tinha espada, nem coroa, nem exército, mas comandava lágrimas e risos com o simples dobrar de uma sílaba.

    Seu nome era Shakespeare.

    Os séculos passaram, mas ele jamais partiu.
    
    Está onde houver amor e canções, poesia e estações, literatura e composições.

    Não há sepultura que contenha o espírito que vive em cada cena encenada, em cada jovem que ama pela primeira vez, em cada monólogo soprado à lua.

    E então, numa cidade não muito distante daqui, talvez até mesmo em Rio Negrinho, ou talvez num coração em chamas, alguém assistiu Shakespeare Apaixonado.
    
    E ao final, não sabia mais se era o filme ou o próprio coração que batia mais forte.

    Era como se Romeu e Julieta tivessem entrado pela janela da sala e, ao invés de morrerem, tivessem sobrevivido.

    Sorrindo.

    Amando eternamente naquela alma inquieta.

    Foi ali, naquele instante de beleza absoluta, que o Homem do Vento reapareceu.

— Estás me chamando? — disse Shakespeare, em pensamento.

— Estás me ouvindo, ainda que há tanto eu tenha partido?

    A resposta era clara: sim.

    Ali estava ele, vivo.

    Reencarnado no arrepio do espectador, no brilho do olhar empolgado, no verbo inflamado de alguém tomado de paixão, não por um enredo, mas pelo milagre da palavra bem dita, da emoção bem narrada.

    Shakespeare, esse sujeito, esse mortal tão eterno, agora morava ali.

    Não em Londres.

    Não em Stratford-upon-Avon.

    Mas no peito daquele que ousava sentir tudo isso de uma só vez.

    E talvez, só talvez, o próprio Shakespeare estivesse, lá de longe, sorrindo:

"Enquanto houver quem ame as palavras com esse furor, eu nunca morrerei."

    Naquela tarde fresca, entre o café e a luz suave que entrava pela janela, mãe, filho e família partilhavam mais do que conversas: dividiam o mistério de existir.

Romeu e Julieta... — disse o filho, com a alma ainda em brasas. — Que loucura linda. Amar como se o mundo não bastasse...

    A mãe sorriu e respondeu, como quem já viveu cada ato da peça:

— Embora você já tenha lido, ainda há o que ver... talvez um filme. Mas saiba: não é o fim que dói. É o quanto a gente se reconhece nele.

    O silêncio se fez.

    As palavras pairaram no ar, como se aguardassem algo.

    E foram ouvidas.

    Naquela noite, sem saber bem por quê, o filho decidiu assistir Shakespeare Apaixonado.

    Não por acaso.

    Mas porque algo invisível já havia sido invocado.

    Ao fim do filme, quase tomado por lágrimas e assombro, compreendeu:

    Shakespeare além de um autor. Foi uma chave.

    Uma chave que abre portas entre mundos.

    A conversa com a mãe fora o rito.

    O filme, o espelho.
    
    A alma... a oferenda.

    Na madrugada, as horas tremularam.

    Às 03h33, exatas, o filho sonhou.

    Um teatro.

    Plateia vazia.

    No palco, apenas ele.

    Luz baixa.

    Do fundo do palco, Shakespeare caminhava.

— Te escutei — disse ele. — Lá na tarde, entre a tua voz e o olhar da tua mãe.

— Escutou?

— Sempre escuto.

    Aqueles que falam de amor com verdade... me chamam sem saber.

    O Bardo estendeu a mão.

— Vem, Taura. A tua pena já está pronta.

    Quando ele acordou, havia sobre a mesa uma folha em branco.

    Mas apenas por um segundo.

    Pois assim que pegou a caneta… a folha soprou ao seu ouvido:

“Escreve. Pois agora tu sabes: a arte também escuta.”

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