quinta-feira, 28 de setembro de 2023

Idas e vindas






Idas e vindas. 


Em um mar silencioso de desespero profundo,

Minha voz se afoga, me sinto no mundo.

A dor que palpita, um coração magoado,

Na dança do amor, sinto-me deslocado.


Os ecos das palavras, um vazio a preencher,

Busco compreensão, algo para entender.

Mas em cada esquina, só a indiferença vejo,

E nesse labirinto, perco-me em desejo.


As sombras envolvem, a alma em agonia,

Esperando por um sinal, uma empatia.

Mas o silêncio é a única resposta que tenho,

E no frio desse inverno, sozinho me detenho.


Que a noite escura traga algum alento,

E que o amanhã possa trazer um novo momento.

A primavera se avizinha e a esperança vem em avivamento

O verão chegará e meu coração que já foi gelado deixará de ser cinzento  


No resplendor após a tormenta, um brilho familiar,

O amor que nunca se ausentou, voltou a brilhar.

O coração, que uma vez sofreu, agora revive com fervor,

Na mesma dança, com a mesma parceira, encontro renovado valor.


Risos e lembranças, ecoam no espaço outrora silente,

Juntos, relembrando o caminho, o amor é novamente quente.

Em cada olhar trocado, a história que sempre soubemos,

E nos braços do amor antigo, novamente nos perdemos.


O sol que sempre esteve lá, agora brilha com mais intensidade,

Banindo as sombras do passado, iluminando nossa realidade.

A voz silenciada pela dor, agora canta com contentamento,

E no calor do verão, celebra-se a cada momento.


A primavera nos lembrou, da beleza que estava adormecida,

E o verão, em sua glória, celebrou a chama reacendida.

Pois mesmo após as tempestades, e noites sem fim, 

           O verdadeiro amor perdura, reacendendo-se assim.                    


Por C. J. Vellasques



segunda-feira, 11 de setembro de 2023

E U S O U D O S U L



Saudade Farrapa

Ser gaúcho está profundamente ligada à mistura de raças e culturas dos pampas do sul do Brasil, Argentina e Uruguai, sendo um símbolo de identidade forjado entre indígenas e hispano-lusos. 

A origem do termo gaúcho é envolta em diferentes hipóteses. Para uns, pode vir do quéchua “huachu” (órfão), usada para designar descendentes de indígenas com europeus. Outros ligam sua raiz aos colonizadores espanhóis das ilhas Canárias, que, ao chegarem à região, adotaram e adaptaram termos para nomear órfãos e pessoas errantes.

Mas uma coisa é certa, a raiz vem dos charruas e minuanos, guerreiros antigos moldados pelo vento e pela vastidão do pampa, com a coragem e o sonho trazidos de longe pelos espanhóis. É ser aquele que zela pela terra, pelo fogo, pelo mate compartilhado, e que entende que liberdade e irmandade são feitos de gestos simples e de grandes atos.

Só por volta da metade do século XIX, especialmente depois do legado da Revolução Farroupilha, o nome “gaúcho” abandona a carga pejorativa. Passa, então, a ser símbolo de bravura, honra e patriotismo. O aventureiro transforma-se em figura digna, celebrada por sua coragem e pelo sentimento profundo de liberdade.

No coração do Rio Grande pulsa uma saga que jamais apagou, a Revolução Farroupilha, quando homens e mulheres desafiaram o impossível e ergueram repúblicas provisórias que simbolizam o anseio de liberdade dos povos do sul.

A República Rio-Grandense foi proclamada em 1836, sonhada em Piratini, símbolo maior dos ideais farrapos e da resistência contra o império centralizador.

Em Santa Catarina, nasceu a efêmera República Juliana, na cidade de Laguna, em 1839, testemunhando que o desejo de autonomia cruzava serras e mares, unia gente de diferentes origens num mesmo sonho.

Ali, os Farrapos mostraram ao mundo que o verdadeiro gaúcho só sabe render-se à saudade, nunca ao medo. E há nomes que brilham eternamente nessa epopeia. Garibaldi, vindo das aventuras italianas, tornou-se parte da alma gaúcha, hipnotizado pela bravura nas coxilhas e navegando pelos lagos catarinenses rumo à República Juliana. Anita, sua companheira, encarnou a força feminina, lutando e amando com igual grandeza.

Foto Leo Ribeiro


Em sua famosa carta de Garibaldi aos Gaúchos, ficou eternizada as palavras, aquilo que o tempo não apaga!

...

"Eu vi corpos de tropas mais numerosos, batalhas mais disputadas, mas nunca vi, em nenhuma parte, homens mais valentes que os da bela Cavalaria Rio-grandense, em cujas filas principiei a desprezar o perigo e combater dignamente pela causa sagrada das nações.


Quantas vezes tenho tentado patentear ao mundo os feitos assombrosos que vi realizar por essa viril destemida gente , que sustentou por mais de nove anos contra um poderoso império a mais encarniçada e gloriosa luta.


Não tenho escrito semelhante prodígio por falta de habilitação, porém a meus companheiros de armas mais uma vez tenho relatado tanta bravura nos combates, tanta generosidade na vitória, tanta hospitalidade, tanto afago aos estrangeiros, e a emoção que minha alma então jovem ainda sentia na presença e na majestade de vossas florestas, da formosura de vossas campinas, dos viris e cavalheirescos exercícios de vossa juventude corajosa; e, repassando pela memória as vicissitudes de minha vida entre vós em seis anos de ativíssima guerra e da prática constante de ações magnânimas, como em delírio brado:


- Onde estão estes belicosos filhos do continente, tão majestosamente terríveis nos combates! Onde estão Bento Gonçalves, Neto, Canabarro, Teixeira e tantos outros valorosos que não lembro! Oh! Quantas vezes tenho desejado nestes campos italianos um só esquadrão dos vossos centauros avezados a carregar uma massa de infantaria com o mesmo desembaraço como se fosse uma ponta de gado.


Que o Rio Grande ateste com uma modesta lápide os sítios em que descansam seus ossos. E que vossas belíssimas patrícias cubram de flores esses santuários de vossas glórias é o que ardentemente desejo.


Por mim abraçai a todos esses amigos e mandai em toda a ocasião ao vosso verdadeiro amigo."


Giuseppe Garibaldi




Ser Farrapo, Federalista, do Contestado ou das Missões é celebrar a irmandade nas rodas de mate, nos galpões, nas tradições que cruzam gerações. É lembrar o legado das monarquias celestiais dos jagunços em terras Contestadas, é o governo comunitário dos guaranis e dos jesuítas junto as Missões, é o simbolismo das repúblicas sonhadas e batalhadas, Piratini e Juliana, que simbolizam a eterna vontade de ser livre. É sentir a saudade sem remorso, pois ela une o presente ao heroísmo do passado; é saber que a história que criamos ecoa para sempre nos pampas e para aqueles que aprendem a amar esta terra.

Ainda estamos aqui.
Nossas proezas estão por todos os rincões.
E o Contestado... é Imortal


Aqui, faço do meu blog um espaço de memória viva. Celebro ao longo de cada ano, cada feito de coragem, cada carta, cada saudade, cada eco em giro eterno.



Porque ser taura, centauro, urutau, jagunço ou gaúcho é ser eterno, nas tradições, nas repúblicas que ousaram existir, na luta, na esperança e na beleza de um povo que nunca deixa de ser história.






______________________________________________

Chamamé e a Verdadeira Essência do Ritmo dos Pampas



O chamamé é uma dança popular e o som das terras fronteiriças, uma expressão viva da cultura dos povos que habitaram o sul da América. Mas, afinal, qual é a verdadeira história do chamamé e como ele se relaciona com a fé e as batalhas que marcaram os rincões do Brasil e países vizinhos.

Surgiu entre o final do século XVIII e o início do XIX, principalmente na região de Corrientes, no norte da Argentina, se espalhando pelo Paraguai e pelos estados do sul do Brasil. Sua base veio do encontro das tradições indígenas guaranis, que viviam entre as Missões Jesuíticas e mantinham profunda ligação com a música e a espiritualidade, com elementos trazidos pelos colonizadores europeus e imigrantes posteriores. 

O acordeão, instrumento símbolo do chamamé, foi incorporado posteriormente, ganhando destaque em bailes, festas rurais e celebrações familiares.

O Chamamé como Ritmo Guerreiro.

Apesar de sua força cultural e de sua popularidade em momentos de confraternização que às vezes seguiam grandes feitos históricos, o chamamé nasceu como música de encontro. 

Encontros das famílias, vizinhos e amigos e no cotidiano das comunidades rurais. No entanto, por ser expressão autêntica do povo do pampa e das terras missioneiras, o chamamé reverbera os sentimentos de luta, saudade, resistência e esperança tão presentes na tradição sulista e missioneira.


Em festas que celebram a história regional, ou mesmo homenagens às grandes batalhas, é comum o chamamé marcar presença, reforçando a identidade, união e bravura do povo.


Embora o chamamé tenha se popularizado como música de baile, alegria e festa, não se restringiu à celebração profana. Isso porque nas regiões onde ele nasceu, a influência das Missões Jesuíticas era muito forte, Nossa Senhora, nas suas diferentes invocações (da Assunção, da Conceição), era amplamente cultuada nas comunidades missioneiras e entre os povos guaranis.


Com o tempo, o chamamé passou a ser usado também em festas religiosas, procissões e momentos de louvor, e muitos autores criaram canções dedicadas especialmente à Virgem Maria. Assim, o chamamé se tornou ponte entre o sagrado e o cotidiano, levando mensagens de fé, esperança e gratidão além dos salões e ranchos.


Hoje, o chamamé é reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO. É música de dança, de fé, de saudade, de celebração da vida e do amor, seja em oração, em homenagem a Nossa Senhora, seja nos bailes que unem gerações.

É o ritmo das fronteiras e da mistura dos povos, dos sorrisos e das histórias ao pé do fogo, da superação e da força coletiva dos pampas.


Seu canto não nasceu das batalhas, mas trilha, com alegria e respeito, o caminho dos corações sulistas de ontem e de hoje.






O Sul e suas cheias



Lembranças logo ali.

Em dias cinzentos sem fim, a cidade chorava,
enchentes e lágrimas, memórias arrastava.
As ruas conhecidas, sob águas se escondiam,
no peito, saudades, incessantemente batiam.

Amigos e parentes, como sombras do passado,
cada rosto, cada voz, em meu ser havia gravado.
O tempo é um rio que não cessa de correr,
e em suas águas, amores, viu-se desaparecer.

Mas de tudo vivido, arrependimento não se vê enterrado,
porque cada riso e lágrima, no coração encontra-se estampado.
Chuva incessante, sem trégua e sem dó,
mas ao final, para casa se voltava.

E lá, nos cantos silenciosos, sentia-se o abraço,
dos tempos idos, dos momentos que se carrega no fundo d'alma.
Saudade, doce melancolia, enraizada ainda como o cheiro de jasmim,
por um tempo que não volta, mas nunca tem fim.

A cada gota que caía, memórias trazia à tona,
de dias ensolarados, de promessas em redoma.
Outubro trouxe consigo a força e a dor,
de um passado vivido, repleto de amor.

No reflexo das poças, vislumbres de uma era,
onde risos e sonhos não eram mera quimera.
E no canto da cidade, onde a chuva se fez mais forte,
resgatava-se lembranças, do sul ao norte.

E como um farol, em meio ao mar revolto de recordações,
a esperança brilhava, reacendendo corações.
Mesmo submersos em saudade e em sofrimento,
a verdade das memórias era seu sustento..




________________________________________




Prece da Enchente:

Ó Pai Celestial, que guias nossos passos nas águas profundas e nas jornadas áridas,

Neste momento de angústia e de perdas, erguemos nossas vozes e nossos corações a Ti.

As águas subiram, invadiram nossos lares e levaram consigo pedaços de nossas vidas.

Deixando para trás o lamento das almas e o silêncio dos sonhos desfeitos.

Senhor, em Tua misericórdia infinita, estende Tua mão poderosa sobre nós.

Protege aqueles que se encontram desamparados, conforta os que choram seus entes queridos.

Dá-nos a força para enfrentar o frio da solidão e a dureza das perdas.

Concede-nos a sabedoria para reconstruir, não apenas nossas casas, mas nossos espíritos.

Bendito seja por cada herói anônimo que, como São Pedro, capitaneou esforços de resgate.

Por cada gesto de solidariedade, cada oferta de abrigo e cada sorriso que aliviou a dor.

Ajuda-nos a manter viva a chama da esperança e a fé de que, após a tempestade, vem a calmaria.

Que a Virgem Maria, nossa guia celestial, nos envolva com seu manto de amor e paciência.

E que cada passo que dermos rumo à reconstrução seja guiado por Tua luz divina.

Inspira-nos a perdoar as afrontas e a oferecer a outra face, como irmãos e irmãs em humanidade.

Oh, Divino Capataz das estâncias celestiais, que nossa gratidão e nossa prece cheguem a Ti.

Como um perfume suave, e que Tua vontade nos conduza sempre para águas mais serenas,

Até que, finalmente, alcancemos a segurança da querência eterna no céu.

Amém.
Escrita por C. J. Vellasques

Um Conto Poético da Verdade Submersa

  Um Conto Poético da Verdade Submersa      Nos vales frios de Rio Negrinho, onde o nevoeiro abraça as montanhas e as urnas guardam silêncio...