Irmãos do Sul


Lembranças logo ali.

Em dias cinzentos sem fim, a cidade chorava,
enchentes e lágrimas, memórias arrastava.
As ruas conhecidas, sob águas se escondiam,
no peito, saudades, incessantemente batiam.

Amigos e parentes, como sombras do passado,
cada rosto, cada voz, em meu ser havia gravado.
O tempo é um rio que não cessa de correr,
e em suas águas, amores, viu-se desaparecer.

Mas de tudo vivido, arrependimento não se vê enterrado,
porque cada riso e lágrima, no coração encontra-se estampado.
Chuva incessante, sem trégua e sem dó,
mas ao final, para casa se voltava.

E lá, nos cantos silenciosos, sentia-se o abraço,
dos tempos idos, dos momentos que se carrega no fundo d'alma.
Saudade, doce melancolia, enraizada ainda como o cheiro de jasmim,
por um tempo que não volta, mas nunca tem fim.

A cada gota que caía, memórias trazia à tona,
de dias ensolarados, de promessas em redoma.
Outubro trouxe consigo a força e a dor,
de um passado vivido, repleto de amor.

No reflexo das poças, vislumbres de uma era,
onde risos e sonhos não eram mera quimera.
E no canto da cidade, onde a chuva se fez mais forte,
resgatava-se lembranças, do sul ao norte.

E como um farol, em meio ao mar revolto de recordações,
a esperança brilhava, reacendendo corações.
Mesmo submersos em saudade e em sofrimento,
a verdade das memórias era seu sustento..


A dor da perda nos obriga a reza através da Prece da Enchente:

Ó Pai Celestial, que guias nossos passos nas águas profundas e nas jornadas áridas,

Neste momento de angústia e de perdas, erguemos nossas vozes e nossos corações a Ti.

As águas subiram, invadiram nossos lares e levaram consigo pedaços de nossas vidas.

Deixando para trás o lamento das almas e o silêncio dos sonhos desfeitos.

Senhor, em Tua misericórdia infinita, estende Tua mão poderosa sobre nós.

Protege aqueles que se encontram desamparados, conforta os que choram seus entes queridos.

Dá-nos a força para enfrentar o frio da solidão e a dureza das perdas.

Concede-nos a sabedoria para reconstruir, não apenas nossas casas, mas nossos espíritos.

Bendito seja por cada herói anônimo que, como São Pedro, capitaneou esforços de resgate.

Por cada gesto de solidariedade, cada oferta de abrigo e cada sorriso que aliviou a dor.

Ajuda-nos a manter viva a chama da esperança e a fé de que, após a tempestade, vem a calmaria.

Que a Virgem Maria, nossa guia celestial, nos envolva com seu manto de amor e paciência.

E que cada passo que dermos rumo à reconstrução seja guiado por Tua luz divina.

Inspira-nos a perdoar as afrontas e a oferecer a outra face, como irmãos e irmãs em humanidade.

Oh, Divino Capataz das estâncias celestiais, que nossa gratidão e nossa prece cheguem a Ti.

Como um perfume suave, e que Tua vontade nos conduza sempre para águas mais serenas,

Até que, finalmente, alcancemos a segurança da querência eterna no céu.

Amém.
Escrita por C. J. Vellasques

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