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Mostrando postagens de dezembro, 2024

A Chácara da Esperança Perdida

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  A Chácara da Esperança Perdida Senhores e senhoras, fechem os olhos. Imaginem uma mulher. Não qualquer mulher. Uma idosa. Seu rosto carrega marcas de batalhas que nunca escolheu lutar. Seus ombros, cansados, suportam o peso de uma vida que sempre buscou fazer o bem. Ela não queria muito. Queria apenas um pedaço de terra onde pudesse ouvir o vento, onde os pássaros pudessem cantar, e ela, enfim, pudesse descansar. Mas a vida, cruel e insensível, lhe reservava um outro destino. Vejam-na naquele dia. Ela chega à chácara com um cachorro amarrado por uma corrente. O animal não entende o que está por vir. Tímido, treme nas mãos que agora tentam proteger, mas que também precisam de proteção. Ela não sabia, senhores, que naquele portão não havia acolhimento. Não havia braços abertos, mas vozes duras, olhares cortantes. E, como um trovão, veio o ataque. Empurrões. Gritos. Mãos que a seguram com uma força que ela jamais conheceria. Seu corpo, frágil, é jogado contra o chão. E então a dor v...

À Sombra do Julgamento

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  À Sombra do Julgamento Cai a noite, fria e lenta, sobre o campo da justiça, E meu coração, aflito, carrega o peso da incerteza. Há no silêncio um grito que não se ouve, Uma prece soprada ao vento, pedindo clemência. Ah, justiça, doce musa admirável, Por que me deixas à mercê do tempo, Esperando por teu toque que redime, Por tua luz que toca? Os dias se estendem como um rosário de agonia, Cada hora, uma lágrima que não cai, Cada noite, uma saudade do futuro que se sonha, De uma vitória que acalme a alma cansada. Lutei com as armas da verdade, Vesti-me de honra e de razão. Mas no tribunal das incertezas, Até a verdade parece um urro perdido. Não há culpa em meu peito, só uma dor serena, De ver minha luta transformada em papel, De provar o que já sei, De amar a justiça, que às vezes é tão fria. E enquanto espero, o tempo me corta, Como uma faca que não mata, mas fere. Cada decisão adiada, um novo calvário, Cada dúvida, uma ferida aberta. Mas ainda assim, espero. Pois o amor à justiç...

"Espinha de Fogo, Alma de Terra"

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  "Espinha de Fogo, Alma de Terra" Como a ti, Galo de Rinha, que se ergue no centro do combate, plumagem reluzindo, peito nu diante do destino, também eu avanço. Avanço sem medo, sem trégua, sem nunca permitir que a espinha, esse tronco da alma, se curve. Pois dobrar minha espinha seria roubar-me a vida — e, se isso há de acontecer, que seja apenas quando eu já não puder mais respirar o ar dos rincões que me formaram. Há em mim a fibra de quem viu o sangue tocar o chão e, mesmo assim, seguiu em frente. Não por escolha, mas por natureza. Porque o homem do Contestado não é feito de paus ou pedras, mas de terra viva e fogo que arde eterno. Sou feito da poeira que o vento soprado pelo grande "Tupã" carrega, mas que nunca apaga; do som seco das chilenas que batem, do brado que rasga os céus em busca de justiça. E como o galo, que não mais enxerga eu também salto no escuro cravando espora no espaço. Enfrento meu algoz de peito aberto, com a coragem de quem sabe que a pele...