terça-feira, 23 de janeiro de 2024

Gotas da Paixão

 


Gotas da Paixão.

Em meu peito mora um vasto mar, onde as rimas fluem, como as ondas a bailar. 
Nesse espaço tão grandioso, as palavras flutuam, jamais suficientes para expressar o amor que acumulam.
Meu amor é vasto e verdadeiro, tal qual o luar, nele me vejo inteiro.
Sem a luz do teu olhar, perco a direção, é nos teus beijos que encontro a inspiração.

Teu beijo, qual rio, em mim desemboca, no mar do meu ser, onde tua essência evoca.
Meu coração é um oceano profundo, onde cada verso revela o amor num segundo.
Neste amor que transcende o visível, sentimento por ti, tão incrivelmente indescritível.
Cada gota deste mar, tua essência reflete, sob o céu azul, esse poeta por ti se deleita.

Tua presença em meu viver é qual luz intensa, que em meio às sombras, brilha e recompensa.
Nas profundezas do meu ser, teu amor ressoa, ecoando como doce melodia que se apaixona.
Cada palavra escrita é um suspiro de paixão, um fragmento ardente do meu coração. 
Nas ondas deste mar, onde eternamente moro, refletem-se os versos que por ti, amor, eu choro..

Por C. J. Vellasques


sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

Pedaço de saudade

 



Pedaço de saudade.  

Nasci lá onde o céu beija a terra, nas vastas canhadas destes costões de Serra, herdei o tiro de laço tal qual meu pai também herdou do seu, e da minha mãe a poesia da qual sou eternamente prisioneiro cujo coração sempre reconheceu.  

Terra pra chamar de minha, não sei se tive, talvez a vastidão deste Planalto seja o que Deus me deu, pois trago o legado do jagunço, com seu facão de guamirim, me toca o sangue encarnado do caboclo peleador que ecoa no Contestado, pulsando forte em mim. 

Correndo feito o rio preto sempre bravo no peito que a vida esculpiu, sou dos que o destino endureceu, nas histórias que quase sumiu. Nos pinheirais alheios, onde os dias lentos se desfizeram, cuidei destas florestas como minhas, embora nunca me pertenceram. 

Vem a história do dia, um desafio me foi dado. Um taura preto, testa e uma pata branca, o picaço aclamado. Cavalo crioulo chileno, largado, mas jamais renegado. Daquele guacho, um companheiro sagrado.  

De rodeio em rodeio com ele avancei, grandes prêmios, lado a lado, conquistei. Laçador me tornei, honra de meu avô herdei, na montaria que me deixou, com orgulho reinei. 

Vi neste cavalo minha luta, reflexo fiel, estações a fio, na cancha, buscamos o céu. Força no olhar, na busca do freio ideal, batizei-o de Soledade, mas picaço era seu sinal. 

Juntos, proezas belas enfrentamos, flor e espinho, na liberdade galopamos. Terra batida sob nossos passos marcados, em cavalgadas, estradas, destinos traçados. 

Eu falava, ele entendia, laço invisível, o bicho sente uma borboleta no lombo por certo sentiu minha alma indomável, nosso perfume, essência de mato, ele, relinchando, parecia querer dar seu relato. 

Nessa lida, a estrada era nossa morada, cada passo, um desafio, na sina do passador encarnada. Sonhei com um rancho exatamente qual tenho hoje, um refúgio fraterno, um abrigo para alma e corpo, em terra firme, embora na represa de Volta Grande nadei e cortei de ponta a ponta com braçadas eternas. 

Pouco tive naquelas épocas, mas ao sentir o cheiro da terra era meu reino, porém, num rodeio, senhores e senhoras, me ofereceram um preço pelo meu soledade. Recusei, mas a canha estava de mão em mão, e a palavra assim como flecha não tem volta após lançada, "Podem dobrar senhores," disse, "mas vou logo dizendo, não paga o passo do Soledade, mas se conseguirem amontoem as sacolada." 

Compraram meu cavalo, tristeza engoli, grandes momentos lembrados, no coração explodi, a vida gira, e após anos sem vê-lo, encontrei-o, perto das terras de um amigo que era conhecido de Soni Rascheck, assim o velho e nobre, voltou para mim, um reencontro com o chasque. 

Sem mais lidas, nos campos o deixei, até o dia final, a despedida que enfrentei. Meu compadre avisou, teu cavalo já não se erguia, fui ao seu encontro, numa viagem que a alma sabia. 

Horas conversei com meu amigo de jornada, em meu colo, sua cabeça, a partida selada. Enterrei meu companheiro, sob um pinheiro a descansar, esperando o dia de nos campos celestiais cavalgar. 

Com meu cachorro Cigano, os cascos nas nuvens soarão, como raios brilhantes, na eternidade sons de trovão. Tropel como tempestades, correremos sem fim, rumo à última morada, onde o destino se finda assim. 

Nossas histórias aqui ficam, e meu apero boiadeiro, ao herdeiro que se identificar, com ele ficará, um legado verdadeiro. Eu, igual um federalista a vagar, com história pra contar, em versos de invernada, meu sentimento a entoar. 

Um dia verão, a lida que tanto amei, na trilha que percorri, meu dom encontrei. Um pedaço de chão, na lavoura de Ana Ruzanoski Tureck me dediquei. Nessa terra, cantarolava ao semear com amor, e a Deus sempre agradecerei 

Agora, sou mais que laçador ou poeta do tempo, pois carrego em minhas lembranças o dia que fui agricultor, na lida do dia a dia, sem querer mais que o respeito do sol e da chuva. Não busco delicadeza, só um lugar nos causos da minha gente, na terra que amo. Que registrem nos anais destes rincões um pouco do sentimento que carrego. Nessa caminhada, carrego comigo a essência jagunça, as memórias de Soledade, meu parceiro, cavalo de tantas andanças. 

Por C. J. Vellasques  

segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

Barreiras do Tempo

 



Barreiras do Tempo


Certo dia, dentro da década dos anos noventa, busquei um cachorrinho recém desmamado, um presente de um velho amigo chamado João Faisel. Esse cachorro, faceiro que só, levei morar comigo nas bandas da Colônia Olsen, interior donde eu morava. No início, ele vivia solto, mas quando chegava visitas prendia na corrente, pois sua estrutura imponente assustava os que vinham se chegando na morada.

Cigano foi o nome que lhe dei, partilhávamos de caçadas dentro da matas daqueles rincões, e ele, mesmo com suas cicatrizes marcadas pelos dentes dos quatis, com a falha na pata por conta de uma peleia que teve, nunca deixava de estar ao meu lado.

Numa certa noite, a boiada do vizinho invadiu a plantação de nossa propriedade. Cigano me avisou em meio a noite com um uivo diferente, de pronto me larguei com ele pelas canhadas que nos levaria até lá. Chegando lá, eu, acabei me desiquilibrando ao ter que recuar ligeiro para traz, enrosquei-me num torrão do lavrado e caí, mas Cigano, meu fiel escudeiro, agarrou um dos bois pela venta e o derrubou ao meu lado, me salvando de um possível acidente grave. Outra vez, ele me livrou de uma picada de cobra, recebendo ele mesmo a mordida, quando eu usaria uma raiz para me agarrar e subir junto uma barranca. Cuidei do meu amigo, remediei os sangramentos mas não consegui salvar a vista dele por conta da pressão ocasionado pelo veneno. Sua força e resistência sempre prevaleciam e logo já estava comigo campo afora ao lado do meu crinudo chamado Soledade.

Mas a vida, ela é feita de despedidas. Chegou o dia que decidi estudar, após dias virando terra para plantar feijão deixei meu trator no meio da roça, peguei meu menino já de dente coloquei em minhas costas e parti. Com o coração apertado, entreguei meu Cigano nas mãos de um homem de bom coração chamado Paulo de Souza.

Creio que a saudade no peito do Cigano era tamanha, e é possível que ele lembrava de nossas proezas, nossas aventuras, afinal éramos jovens. Me contou Paulo que ao entardecer, o valente cão olhava para o horizonte, uivando baixinho, um choro cadente pelas lembranças.

Foi numa tarde, sob o manto de um pôr do sol dourado, Cigano deitou, fechou os olhos e partiu, morrendo de saudade dos campos onde correu em épocas de ouro.

Certo dia me encontrei com ele em meios aos sonhos onde os amigos se encontram para matar a saudade, lhe pedi perdão por ter lhe abandonado, pois o que fiz foi judiação, ele daquele tipo valente balançou o corpo inteiro anunciando que não havia nada de errado. Observei que ele corre nesse tempo nos campos do céu, levantando nuvens em redemoinhos, aguardando o dia em que nos reencontraremos.

E assim, a história do Cigano, aquele bulldog charuto brasino e leal, tornou-se parte de minha vida, talvez para muitos se torne uma lenda nas terras de Rio Negrinho, uma obra imortal nas minhas lembranças e nas daqueles que leram esses memoriais. É a lembrança viva de um amor que transcende as barreiras do tempo e do espaço. Até um dia meu amigo.

Por C. J. Vellasques




sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

Terra, sonho e lenda

 





Terra, sonho e lenda

 

Nas terras do Planalto Norte, onde as cachoeiras entoam canções,

Surge a história de uma luta, tecida em corações e paixões.

Onde a estrada de ferro cortava a floresta sem fim,

Começou um conto de ganância, de esperança, um conto sem fim.

 

Madeireira, estendia suas garras, sedenta por madeira,

Facquar, o magnata, esquecia que cada árvore era uma vida inteira.

Nesse cenário, LEVANTAM-SE jagunços, em busca de justiça e para se manter em suas terra,

Guiados crenças, monges, lendas, fé contra a guerra.

 

Era um tempo de lendas vivas, de Doze Pares de França,

De São Sebastião, de sonhos, onde a esperança ainda dança.

Nessa terra, Madrinha Maria Rosa, curandeira, mãe dos desprotegidos,

E Chica Pelego, guerreira, defensora dos injustiçados e feridos.

 

As vozes das mulheres ecoavam, fortes, pelas coxilhas e vales,

Nos ensinando que em meio à luta, sua coragem jamais falha.

Elas, com suas mãos de cura e espíritos de luta,

Moldaram a história do Contestado, com força absoluta.

 

Em solo esperançoso, essa história se mantém viva,

Nas lembranças dos que lutaram, e na terra que seu legado cativa.

A herança do Contestado, um grito por justiça e verdade,

 Segue ecoando, chamando por memória, dignidade e igualdade.

 

Mas está longe dos entendimentos e vaidades ...

 

Na Região Contestada, onde as histórias se entrelaçam com os rios,

Paira ainda a lenda das virgens de José Maria, figuras de mistério e desafios.

Contam que sobre o Rio Iguaçu, em União da Vitória, elas caminhavam,

Como seres etéreos, deixando soldados em delírio, enquanto planavam.

 

Mulheres de cabelos tanto claros quanto escuros, pela mão do monge guiadas,

Eram chamarizes em batalha, em tramas de enganos e lutas calculadas.

Armadas com punhais escondidos, e fuzis dos inimigos tomados,

Marcavam o destino dos soldados, em atos lendários e audaciosos.

 

Nas narrativas do Contestado, estas virgens, ferozes e astutas na guerra,

Encantavam com sua serenidade, mas em batalha revelavam sua terra.

Com precisão e destreza, findavam seus oponentes, uma dança mortal,

Um misto de encanto e força, um destino tecido entre o bem e o mal.

 

Mas no desenrolar das lendas, o fim dessas heroínas se desdobra,

Eis que pelo Leão do Contestado, suas jornadas foram abruptamente cortada ao serem fuziladas.

E assim termina o ciclo dessas mulheres, entre paixão e traição,

Uma parte sombria, porém, essencial, da história dessa nação.

 

No alto da Serra Catarinense, onde o passado e o presente se encontram,

O legado do Contestado continua, forte, rios que não se esgotam.

Nestas terras, histórias e lendas se confundem,

Jagunços, monges e GUERREIRAS que por justiça lutavam, ainda nossas mentes invadem.

 

O Planalto guarda essas memórias, de lutas, lendas e verdades,

Um cenário de eventos, de coragem, de sonhos e de realidades.

É um convite à reflexão, ao respeito, a seguir descobrindo,

As lições do povo do Contestado, entre lendas e fatos, sempre vivendo.

 

Disso tudo consigo concluir que se tudo permanece vivo em nossos dias, é porque o ideal era verdadeiro, pois ...

Existe, além das sombras da história, um mundo mais sadio, mais justo,

Um lugar que brilha no horizonte, pelo qual lutamos com todo o nosso susto.

Com o guamirim frio e duro como facão em mãos, símbolo de força e de guia,

Caminhavam em direção a esse mundo, onde a esperança nunca se esvazia.

 

Além dos campos do Contestado, além do sangue derramado,

Se sonhava pelo mundo de liberdade, um sonho ainda não alcançado.

Um lugar sem frio, sem sangue, sem maldade,

Onde o caboclo não é mais acuado, mas vive em serenidade.

 

Nesse ideal que se buscava, não havia fome por vingança,

Nem mortes traçadas por destinos, mas sim uma contínua esperança.

É um lugar onde a paz reina, onde a justiça é um rio que flui,

Um local onde o amor e a compreensão são as sementes que se expandem e frui.

 

E assim, inspirados pelas histórias do passado, pelos sonhos do Contestado,

Marchamos para frente, com corações destemidos, nunca desanimados.

Pois já se acreditou num futuro onde a vida seria o bem maior e um direito de todos,

Um mundo onde a harmonia prevalece, e onde cada passo nos leva a novos modos.

 

Por C. J. Vellasques


Um Conto Poético da Verdade Submersa

  Um Conto Poético da Verdade Submersa      Nos vales frios de Rio Negrinho, onde o nevoeiro abraça as montanhas e as urnas guardam silêncio...