terça-feira, 23 de janeiro de 2024
Gotas da Paixão
sexta-feira, 19 de janeiro de 2024
Pedaço de saudade
Pedaço de saudade.
Nasci lá onde o céu beija a terra, nas vastas canhadas destes costões de Serra, herdei o tiro de laço tal qual meu pai também herdou do seu, e da minha mãe a poesia da qual sou eternamente prisioneiro cujo coração sempre reconheceu.
Terra pra chamar de minha, não sei se tive, talvez a vastidão deste Planalto seja o que Deus me deu, pois trago o legado do jagunço, com seu facão de guamirim, me toca o sangue encarnado do caboclo peleador que ecoa no Contestado, pulsando forte em mim.
Correndo feito o rio preto sempre bravo no peito que a vida esculpiu, sou dos que o destino endureceu, nas histórias que quase sumiu. Nos pinheirais alheios, onde os dias lentos se desfizeram, cuidei destas florestas como minhas, embora nunca me pertenceram.
Vem a história do dia, um desafio me foi dado. Um taura preto, testa e uma pata branca, o picaço aclamado. Cavalo crioulo chileno, largado, mas jamais renegado. Daquele guacho, um companheiro sagrado.
De rodeio em rodeio com ele avancei, grandes prêmios, lado a lado, conquistei. Laçador me tornei, honra de meu avô herdei, na montaria que me deixou, com orgulho reinei.
Vi neste cavalo minha luta, reflexo fiel, estações a fio, na cancha, buscamos o céu. Força no olhar, na busca do freio ideal, batizei-o de Soledade, mas picaço era seu sinal.
Juntos, proezas belas enfrentamos, flor e espinho, na liberdade galopamos. Terra batida sob nossos passos marcados, em cavalgadas, estradas, destinos traçados.
Eu falava, ele entendia, laço invisível, o bicho sente uma borboleta no lombo por certo sentiu minha alma indomável, nosso perfume, essência de mato, ele, relinchando, parecia querer dar seu relato.
Nessa lida, a estrada era nossa morada, cada passo, um desafio, na sina do passador encarnada. Sonhei com um rancho exatamente qual tenho hoje, um refúgio fraterno, um abrigo para alma e corpo, em terra firme, embora na represa de Volta Grande nadei e cortei de ponta a ponta com braçadas eternas.
Pouco tive naquelas épocas, mas ao sentir o cheiro da terra era meu reino, porém, num rodeio, senhores e senhoras, me ofereceram um preço pelo meu soledade. Recusei, mas a canha estava de mão em mão, e a palavra assim como flecha não tem volta após lançada, "Podem dobrar senhores," disse, "mas vou logo dizendo, não paga o passo do Soledade, mas se conseguirem amontoem as sacolada."
Compraram meu cavalo, tristeza engoli, grandes momentos lembrados, no coração explodi, a vida gira, e após anos sem vê-lo, encontrei-o, perto das terras de um amigo que era conhecido de Soni Rascheck, assim o velho e nobre, voltou para mim, um reencontro com o chasque.
Sem mais lidas, nos campos o deixei, até o dia final, a despedida que enfrentei. Meu compadre avisou, teu cavalo já não se erguia, fui ao seu encontro, numa viagem que a alma sabia.
Horas conversei com meu amigo de jornada, em meu colo, sua cabeça, a partida selada. Enterrei meu companheiro, sob um pinheiro a descansar, esperando o dia de nos campos celestiais cavalgar.
Com meu cachorro Cigano, os cascos nas nuvens soarão, como raios brilhantes, na eternidade sons de trovão. Tropel como tempestades, correremos sem fim, rumo à última morada, onde o destino se finda assim.
Nossas histórias aqui ficam, e meu apero boiadeiro, ao herdeiro que se identificar, com ele ficará, um legado verdadeiro. Eu, igual um federalista a vagar, com história pra contar, em versos de invernada, meu sentimento a entoar.
Um dia verão, a lida que tanto amei, na trilha que percorri, meu dom encontrei. Um pedaço de chão, na lavoura de Ana Ruzanoski Tureck me dediquei. Nessa terra, cantarolava ao semear com amor, e a Deus sempre agradecerei.
Agora, sou mais que laçador ou poeta do tempo, pois carrego em minhas lembranças o dia que fui agricultor, na lida do dia a dia, sem querer mais que o respeito do sol e da chuva. Não busco delicadeza, só um lugar nos causos da minha gente, na terra que amo. Que registrem nos anais destes rincões um pouco do sentimento que carrego. Nessa caminhada, carrego comigo a essência jagunça, as memórias de Soledade, meu parceiro, cavalo de tantas andanças.
Por C. J. Vellasques
segunda-feira, 8 de janeiro de 2024
Barreiras do Tempo
sexta-feira, 5 de janeiro de 2024
Terra, sonho e lenda
Terra, sonho e lenda
Nas terras do Planalto Norte, onde as cachoeiras
entoam canções,
Surge a história de uma luta, tecida em corações e
paixões.
Onde a estrada de ferro cortava a floresta sem
fim,
Começou um conto de ganância, de esperança, um
conto sem fim.
Madeireira, estendia suas garras, sedenta por
madeira,
Facquar, o magnata, esquecia que cada árvore era
uma vida inteira.
Nesse cenário, LEVANTAM-SE jagunços, em busca de
justiça e para se manter em suas terra,
Guiados crenças, monges, lendas, fé contra a
guerra.
Era um tempo de lendas vivas, de Doze Pares de
França,
De São Sebastião, de sonhos, onde a esperança
ainda dança.
Nessa terra, Madrinha Maria Rosa, curandeira, mãe
dos desprotegidos,
E Chica Pelego, guerreira, defensora dos
injustiçados e feridos.
As vozes das mulheres ecoavam, fortes, pelas
coxilhas e vales,
Nos ensinando que em meio à luta, sua coragem
jamais falha.
Elas, com suas mãos de cura e espíritos de luta,
Moldaram a história do Contestado, com força
absoluta.
Em solo esperançoso, essa história se mantém viva,
Nas lembranças dos que lutaram, e na terra que seu
legado cativa.
A herança do Contestado, um grito por justiça e
verdade,
Mas está longe dos entendimentos e vaidades ...
Na Região Contestada, onde as histórias se
entrelaçam com os rios,
Paira ainda a lenda das virgens de José Maria,
figuras de mistério e desafios.
Contam que sobre o Rio Iguaçu, em União da
Vitória, elas caminhavam,
Como seres etéreos, deixando soldados em delírio,
enquanto planavam.
Mulheres de cabelos tanto claros quanto escuros,
pela mão do monge guiadas,
Eram chamarizes em batalha, em tramas de enganos e
lutas calculadas.
Armadas com punhais escondidos, e fuzis dos
inimigos tomados,
Marcavam o destino dos soldados, em atos lendários
e audaciosos.
Nas narrativas do Contestado, estas virgens,
ferozes e astutas na guerra,
Encantavam com sua serenidade, mas em batalha
revelavam sua terra.
Com precisão e destreza, findavam seus oponentes,
uma dança mortal,
Um misto de encanto e força, um destino tecido
entre o bem e o mal.
Mas no desenrolar das lendas, o fim dessas
heroínas se desdobra,
Eis que pelo Leão do Contestado, suas jornadas
foram abruptamente cortada ao serem fuziladas.
E assim termina o ciclo dessas mulheres, entre
paixão e traição,
Uma parte sombria, porém, essencial, da história
dessa nação.
No alto da Serra Catarinense, onde o passado e o
presente se encontram,
O legado do Contestado continua, forte, rios que
não se esgotam.
Nestas terras, histórias e lendas se confundem,
Jagunços, monges e GUERREIRAS que por justiça lutavam, ainda
nossas mentes invadem.
O Planalto guarda essas memórias, de lutas, lendas
e verdades,
Um cenário de eventos, de coragem, de sonhos e de
realidades.
É um convite à reflexão, ao respeito, a seguir
descobrindo,
As lições do povo do Contestado, entre lendas e
fatos, sempre vivendo.
Disso tudo consigo concluir que se tudo permanece
vivo em nossos dias, é porque o ideal era verdadeiro, pois ...
Existe, além das sombras da história, um mundo
mais sadio, mais justo,
Um lugar que brilha no horizonte, pelo qual
lutamos com todo o nosso susto.
Com o guamirim frio e duro como facão em mãos,
símbolo de força e de guia,
Caminhavam em direção a esse mundo, onde a
esperança nunca se esvazia.
Além dos campos do Contestado, além do sangue
derramado,
Se sonhava pelo mundo de liberdade, um sonho ainda
não alcançado.
Um lugar sem frio, sem sangue, sem maldade,
Onde o caboclo não é mais acuado, mas vive em
serenidade.
Nesse ideal que se buscava, não havia fome por
vingança,
Nem mortes traçadas por destinos, mas sim uma
contínua esperança.
É um lugar onde a paz reina, onde a justiça é um
rio que flui,
Um local onde o amor e a compreensão são as
sementes que se expandem e frui.
E assim, inspirados pelas histórias do passado,
pelos sonhos do Contestado,
Marchamos para frente, com corações destemidos,
nunca desanimados.
Pois já se acreditou num futuro onde a vida seria
o bem maior e um direito de todos,
Um mundo onde a harmonia prevalece, e onde cada
passo nos leva a novos modos.
Por C. J. Vellasques
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